Devagar, a Poesia
16,00 €
- ISBN: 9789898833815
- Edição: 04/2022
- Idioma: Português
- Nº Páginas: 224
- Tipo: Livro
- Estado: Novo
- Editora: Documenta
- Autor: Martelo, Rosa Maria
Tema: Dicionários, Linguística e Estudos Literários
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Descrição
Como qualquer outra arte, a poesia produz uma interrupção no curso do tempo, e essa intempestividade é experimentada de forma libertária tanto por quem a escreve quanto por quem a lê.
Este livro procura apreender a experiência temporal expansiva gerada pelo discurso poético enquanto forma de resistência, e acompanha alguns processos de inquirição do tempo em que vivemos, dos ritmos com que vivemos. Essa inquirição envolve uma atenção exacerbada ao vocabulário, aos modos de dizer. E passa, de maneira não necessariamente explícita, pela inquirição metadiscursiva e pela experimentação do discurso. Somos as palavras que dizemos, mas também somos a recusa de muitas outras, que não iremos proferir nunca. Palavras que instituem papéis sociais injustos, regulações e normas discutíveis, palavras que tantas vezes espartilham a imaginação e a possibilidade de outros mundos. Como se não houvesse alternativa. […]
Passámos a viver isolados, a marcar encontros em ambientes digitais que nos parecem tremendamente insípidos, mesmo se em grande parte lhes devemos o pouco contacto que nos foi possível manter nas fases mais críticas. A vida parece suspensa, como se, entre o passado e o futuro, habitássemos um hiato, um intervalo que ninguém sabe ao certo quando e como vai terminar. Neste mundo ferido de estranha irrealidade, o discurso da poesia mantém-se tremendamente real, denso. Percebemos que a suspensão gerada pelo tempo da poesia nada tem a ver com estas formas de parálise porque releva de outro tipo de suspensão, feita de possibilidade e expectativa criadora. E de memória, também. Pela sua natureza libertária, a poesia não pactua com o esquecimento dos erros e das sujeições do passado. É deles que nos preserva quando nos faculta uma outra experiência do tempo, mais introspectiva e menos maquínica, ou quando ouve e experimenta o que alguns, antes de nós, sonharam como possível. Quando valoriza e exemplifica a dúvida, a possibilidade e a expectativa, a poesia preserva-nos do pior, ainda que não lhe caiba mostrar-nos um caminho a seguir. [Rosa Maria Martelo
Este livro procura apreender a experiência temporal expansiva gerada pelo discurso poético enquanto forma de resistência, e acompanha alguns processos de inquirição do tempo em que vivemos, dos ritmos com que vivemos. Essa inquirição envolve uma atenção exacerbada ao vocabulário, aos modos de dizer. E passa, de maneira não necessariamente explícita, pela inquirição metadiscursiva e pela experimentação do discurso. Somos as palavras que dizemos, mas também somos a recusa de muitas outras, que não iremos proferir nunca. Palavras que instituem papéis sociais injustos, regulações e normas discutíveis, palavras que tantas vezes espartilham a imaginação e a possibilidade de outros mundos. Como se não houvesse alternativa. […]
Passámos a viver isolados, a marcar encontros em ambientes digitais que nos parecem tremendamente insípidos, mesmo se em grande parte lhes devemos o pouco contacto que nos foi possível manter nas fases mais críticas. A vida parece suspensa, como se, entre o passado e o futuro, habitássemos um hiato, um intervalo que ninguém sabe ao certo quando e como vai terminar. Neste mundo ferido de estranha irrealidade, o discurso da poesia mantém-se tremendamente real, denso. Percebemos que a suspensão gerada pelo tempo da poesia nada tem a ver com estas formas de parálise porque releva de outro tipo de suspensão, feita de possibilidade e expectativa criadora. E de memória, também. Pela sua natureza libertária, a poesia não pactua com o esquecimento dos erros e das sujeições do passado. É deles que nos preserva quando nos faculta uma outra experiência do tempo, mais introspectiva e menos maquínica, ou quando ouve e experimenta o que alguns, antes de nós, sonharam como possível. Quando valoriza e exemplifica a dúvida, a possibilidade e a expectativa, a poesia preserva-nos do pior, ainda que não lhe caiba mostrar-nos um caminho a seguir. [Rosa Maria Martelo