Histórias com sentidos

«Proponho um jogo «aos cinco sentidos», sem especializações nem compartimentações. Uma aventura de saber mais. São duas as gotas de perfume e logo o seu aroma nos recorda a imagem perturbadora de Marilyn Monroe. E um nariz de cão, que é capaz de detectar uma quantidade de cheiro a limão inferior a 0,000000000000001 grama por litro! Consumimos um gole de café, sentados à mesa de Maomé, Balzac e Pessoa, e os corpúsculos gustativos deliciam-se e a cafeína identifica-se com a 1,3,7- trimetilxantina. Vestimos roupa leve e, de imediato, acorrem Carothers e o seu nylon (New York + LONdon), as microfibras medalhadas, e a recordação de Coco Chanel e Mary Quant em mini-saia. Desde a explosão impressionista até à abstracção do branco sobre branco de Malevitch, os nossos olhos inundam o mundo de cor. O que é um corante? O que é um pigmento? O que é humor aquoso e humor vítreo? O que seria Las Vegas sem as noites de néon? Os sons da lira poética de Hermes e os da guitarra eléctrica de Les Paul ressoam pelos caracóis dos nossos ouvidos. Yeah!, Yeah cantaram os Beatles e os putos portugueses no Teatro Monumental. Sobe o decibel. Tudo compactado, em discos, em fitas, em CDs. Façamos agora o somatório das sensações auditivas, tácteis, visuais, olfactivas e gustativas. Perfaz, indubitavelmente, mais do que cinco sentidos. É uma aritmética estranha… Invoca-se Descartes, Helen Keller e até a macaca Helena. Conhecer e interpretar. Teremos compreendido? Cada partida ganha tem seu prémio. Conta-se um conto. Fabulam-se os sentidos. E atrevemo-nos mesmo a questionar o homem. Oscilador harmónico?»
Raquel Gonçalves

O mínimo que se poderá dizer da obra presente é que se trata de um livro verdadeiramente singular – não porque se ocupa dos estímulos, das sensações, das percepções, dos sentidos, para usar uma única palavra –, mas sim porque procura dar-nos, em toda a sua amplitude e a um tempo, o fisiológico, o científico e o histórico.
Do olfacto aos aromas e aos perfumes, do paladar ao açúcar, ao sal e ao álcool, da audição ao som e à música, do tacto ao vestuário, da visão à cor e à policromia – há toda uma geografia de oceanos e continentes a explorar. No fundo, há todo um infindável desafio ao leitor, através do conhecido e do desconhecido, do sentir, do saber e do imaginável.